Da janela vejo a bandeira vermelha com quatro estrelas amarelas guiadas pela estrela maior. Aceno para a moça no terraço do consulado quando caminhamos todo dia a mesma hora. Outro país dentro do meu. Não podemos nos falar, mas nossas ações comuns parecem garantir alguma conexão. Nunca a vi sair do prédio. Podia tentar descobrir seu nome. Será filha do cônsul? Seu medo será igual ao meu? Talvez se sinta ameaçada quando aparecem aqueles grupos gritando contra sua bandeira.
Os passos dela são silenciosos. Após a caminhada, movimentos de taichi. Tento repetir, mas me falta serenidade. Preciso ter palavras em torno de mim. @crisdias enviou ontem seu boa-noite semanal à internet. Ouço seu podcast enquanto circulo ao sol pela cobertura. Hoje ele fala sobre a dificuldade de ser otimista diante da pandemia de Covid-19. Relembra a angústia e a liberdade de não controlarmos o futuro. Mais tarde comento no site: “Sem controle, melhor ficar nas minhas janelas. O mundo adoeceu muito antes desse vírus. Quanto mais navego no ciberespaço, mais conheço a dor do outro. A miséria humana cresce a ponto de sufocar.”
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