Avaliado no Brasil 🇧🇷 em 27 de janeiro de 2023
Mas em alguns dos textos existe espaço também para registros de um outro tempo, no qual os garotos não tinham acesso à internet e se equilibravam em carrinhos de rolimã, principalmente em lugarejos distantes dos grandes centros. Nesse tempo, comenta a autora, as viagens turísticas ao exterior aconteciam com menor frequência que hoje, e as imagens existentes somente em jornais chegavam aos entes saudosos solitariamente estampadas em cartões postais. Mesmo o ato de fotografar não era tão corriqueiro.
Pois é na reprodução de momentos nostálgicos que o ritmo da linguagem moderna de @literatice se desacelera e dá lugar a vocábulos menos adequados à vida atual, além de retratar hábitos em desuso.
O contraste é um artifício recorrente na construção dos textos, pois além de produzir a alternância entre tempos e linguagens, move a gangorra onde contrabalançam ações e sentimentos opostos. No conto “A Mulher Daquela Casa”, despontam pudor versus ousadia, medo versus coragem, respeito versus intromissão, desculpa versus franqueza, mentira versus confissão. E o contraste também diferencia a freira da amante, a velhice, da infância. A confusão de sentimentos antagônicos e ambivalentes acaba por gerar um clima desconcertante para o leitor, apesar de todo o lirismo da linguagem. É esse o meu conto preferido.
Os temas dão conta de aspectos variados das relações humanas, especialmente as amorosas, são eles: infância, sonhos, escolhas, amor, memória, autoconhecimento e o outro, prazer, a noção de felicidade, a vida e o final dela.
Os textos maduros compõem uma unidade indiscutível e são divididos em quatro partes: A Dois, A Três, A Sós e Em Família.
Boa oportunidade para você se jogar na literatura nacional contemporânea. Eu recomendo!
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Coquinho
Mafalda, uma criatura luminosa que atravessou minha vida feito um cometa, me dizia que “não lia porcaria.” Aprendi com ela, entre outras coisas, que a vida é curta demais da conta pra gente perder tempo com o que não presta. Daí, sou muito seletivo nas minhas leituras. Não leio qualquer coisa. Aliás, nem lia os contemporâneos. E foi graças à minha professora de literatura, Marli Arvelos, que não cometi essa insanidade.
Mas até hoje tenho um pé atrás com relação à literatura contemporânea. Para encurtar conversa, só leio grandes autores e autoras nacionais. Os de língua portuguesa em geral e latino-americanos. Sou contra essa história de ficar jogando confete em escritores da Europa e Estados Unidos e fazer pouco da nossa literatura nacional. Apenas no que diz respeito à literatura contemporânea. Sou Policarpo. Mas não sou Quaresma, evidentemente. Leio, sim, os grandes clássicos da literatura universal. Quem escreve tem a obrigação de conhecer e estudar os grandes autores e autoras da literatura.
AUTORAS DOS SÉCULOS XIX E XX, LIDAS AUTORAS CONTEMPORÂNEAS, LIDAS
Amélia de Oliveira, Bárbara Heliodora, Carolina Nabuco, Carolina Maria de Jesus, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Cleonice Berardineli, Cora Coralina, Dinah Silveira de Queiroz, Florbela Espanca, Gabriela Mistral, Henriqueta Lisboa, Hilda Hilst, Júlia Lopes de Almeida, Lúcia Miguel Pereira, Lygia Fagundes Telles, Lygia Bojunga Nunes, Maria Clara Machado, Maria Firmina dos Reis, Maria José Dupré, Nélida Piñon, Raquel de Queiroz, Safo de Lesbos, Vilma Guimarães Rosa e Zélia Gattai.
AUTORAS CONTEMPORÂNEAS, LIDAS.
Adélia Prado, Adriana Simão, Alice Ruiz, Aline Bei, Ana Maria Gonçalves, Ana Martins Marques, Ana Miranda, Alice Casimiro Lopes, Badi Assad, Carla Madeira, Conceição Evaristo, Catherine Beltrão, Cristina Wollenberg, Eliane Brum, Fernanda Lopes de Almeida, Giuliana Ragusa, Jarid Arraes, Lorena Saraiva, Luciana de Gnone, Maria Valéria Resende, Marina Colasanti, Martha Medeiros, Paulina Chiziane, Socorro Acioli, Teruko Oda, Vanessa Meriqui, Vanessa Passos, Tatiana Salem Levy, Telma Teodoro, Tina Correia e Thaís Nunes.Sem perceber, o número de autoras contemporâneas superou, bastante, o número de autoras do século passado. Enfim, para quem se recusava a ler os contemporâneos, eu excedi, e muito, as expectativas da minha professora. Mas vamos ao que interessa. Por que Alice Casimiro Lopes entrou para a minha lista de autoras brasileiras de leitura obrigatória?
Primeiro, a Alice Casimiro Lopes tem belas histórias para contar. E nos conta com segurança, habilidade, encanto, força e excitabilidade artística. E nos atraca e envolve na história com uma habilidade incrível de tecelã da palavra.“As ideias surgem assim meio de repente, cartas de um jogo do qual eu desconheço as regras. Aos poucos as imagens vão se unindo e as lembranças vão se formando. Eu poderia começar pela casa, havia uma casa. Ou pela mulher dessa casa. Não importa. Não há diferença na escolha. A mulher e a casa eram de tal modo ligadas a ponto de não se perceber um limite entre as duas. Era a casa, era a mulher daquela casa.” Alice Casimiro Lopes
Depois, Alice Casimiro Lopes, feito fada madrinha, desengaveta da memória, entre trastes e quinquilharias, “um homem singular”. Esse, a meu ver, é um dos melhores contos do livro. No entanto, nesse particular, é impossível escolher um conto da autora.
Outra coisa, “Vida sem Margens” nasceu um clássico. É um livro de contos tão sem margens, tão singular que pode ser lido como um romance. Um romance do vazio doído da dor que faz morada em cada um de nós. Nesse quesito, a Alice me lembra, e muito, o contista uruguaio Juan Carlos Onetti.
Recomendo fortemente a compra deste livro de contos. Confesso que foi o melhor livro de contos que li nos últimos dez anos. Os textos desta autora são de dar inveja aos autores e autoras da alta literatura brasileira e universal. A editora Oito E Meio acertou na mosca publicando “Vida Sem Margens” da escritora Alice Casimiro Lopes. Registro aqui meus parabéns à Flávia Iriarte e à toda equipe do Carreira Literária. Estou ansioso, Alice Casimiro Lopes, aguardando seu próximo livro. Forte abraço. Sucesso é o que lhe desejo. E muito. Meus parabéns! Merece um Jabuti. E vai ganhar. E, por favor, me convide.
Avaliado no Brasil 🇧🇷 em 21 de dezembro de 2022